terça-feira, 30 de março de 2010
Monologo - Primeiro
...a dor pode ser tão reconfortante
O tempo pode ser tão limitador
Limita a dor...
...libertador?
Escarnios! Deem as tripas aos cães e me deixem!!
Deixem este pobre coitato aproveitar o que lhe resta de humanidade!
(pausa)
Me acostumei com o escuro! O céu é tão azul ...
...que as vezes me chega a cegar
então ... eu volto para o escuro
...ao qual não deveria ter me acostumado
ao escuro...
eu já me acostumei
(ponto e virgula)
domingo, 28 de março de 2010
Ainda continuo a ler sobre ela.
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
Clarice Lispector
quinta-feira, 25 de março de 2010
domingo, 21 de março de 2010
Pos-Morte
Não fiz tudo .... ainda .... tudo que queria ...ainda há muita coisa a se fazer
muita gente a conhecer...muito.. (silencio) ...
(choro)
Vejo meu funeral ... a tristeza no rosto de cada um... pessoas que nunca disseram o que queriam falar...inconformação...luto
(brilho)
Eu te darei outra chance...uma chance de mudar tudo....um recomeço....
mas...o que você fará ... como você será...
Serei feliz ...não terei mais medo ....
Por que não precisarei temer nada...
.. manterei tudo que amo perto de mim..
Farei por merecer ...cada segundo dado...
viverei de novo...
sexta-feira, 19 de março de 2010
Soneto da Ausêcia
...não há nada fora do lugar, não há lugar fora de nada
Se nada quer dizer ausência de tudo,
...Tudo, então, seria a ausêcia de nada
(...)
Estava ausente de mim, estava ausente...
quinta-feira, 18 de março de 2010
Estrela Cadente
...mas essa caiu, bem no meio da cidade
Desejei ...
é segredo
(como posso ter segredos comigo mesmo?)
Assim fica mais facil me enganar quando o desejo se realizar....
...ou se não se realizar...
...prefiro então ser franco comigo mesmo
E pedir uma dose da boa realidade.
Considerações Finais
...Já foi dito tudo que se tinha para dizer ...
Ponto Final.
domingo, 14 de março de 2010
'Tchau'
sem voz e vencido.
não
tenho
mais
o que
falar
Contido, será meu choro de cada manhã,
e a cada dia este será diminuido.
Que fique bem claro que não será por mal.
Construindo
e
Desconstruindo
Mundos.
sábado, 13 de março de 2010
Aula de Saúde
Rio Branco
Ao passo que o concreto se eleva ao proprio céu.
Somos feito de carne e osso, somos osso muito mais que carne.
Janelas abertas, ar condicionado desligado.
Falta sangue na cidade, falta eletricidade.
Hemoglobinas reclusas e confusas,
descem e sobem escadas.
Elevador parado,
vozes no parapeito.
Desço dezoito andares.
Soneto da Ansiedade
Jogado, surrado num canto qualquer...
tal...qual
Um
jeans
usado
(virgula)
Me ergo e caminho.
As coisas parecem andar em camera lenta.
Não vejo mais você a me esperar.
Acordo.
É só um sonho ruim.
Soneto da Culpa
Onde você me perdeu?
Nos perdemos.
Nós perdemos, o que restava a nós perder.
Tudo fica tão serpia, tão monocramtico.
Tanta coisa passa pela minha cabeça.
Por muitas vezes pensei no que Eu tinha feito de errado.
E foram muitas coisas.
Como poderia remediar isso?
Não posso fazer nada. Não poderia. Não posso.
Ponto.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Hoje não leio mais Platão, leio Maiakovisk.
Cadeiras são muito convencionais, enãao sento no chão.
Abro o meu livro de filosofia, leio algo sobre Platão e sua caverna em que todos estão acorrentados".
Leio,
....o meu livro.
Me perguntaram se queria ficar sozinho.
Sim, foi a minha resposta.
Mas não queria ficar sozinho.
Só queria que Ela surgisse e me resgatasse.
Ainda não sei quem é ela, ainda não a encontrei.
Vou continuar lendo meus livros.
Hoje não leio mais Platão,
leio Maiakovisk.
O sinal toca de novo, Então volto a estudar numeros complexos,
que até hoje não se mostrou nem um pouco util em minha vida.
domingo, 7 de março de 2010
Estrela
Escutai! Se as estrelas se acendem
será por que alguém precisa delas?
Por que alguém as quer lá em cima?
Será que alguém por elas clama,
por essas cuspidelas de pérolas?
Ei-lo aqui, pois, sufocado, ao meio-dia,
no coração dos turbilhões de poeira;
ei-lo, pois, que corre para o bom Deus,
temendo chegar atrasado,
e que lhe beija chorando
a mão fibrosa.
Implora! Precisa absolutamente
duma estrela lá no alto!
Jura! Que não poderia mais suportar
essa tortura de um céu sem estrelas!
Depois vai-se embora,
atormentado, mas bancando o gaiato
e diz a alguém que passa:
“Muito bem! Assim está melhor agora, não é?
Não tens mais medo, hein?”
Escutai, pois! Se as estrelas se acendem
é porque alguém precisa delas.
É porque, em verdade, é indispensável
que sobre todos os tetos, cada noite,
uma única estrela, pelo menos, se alumie.
Vladmir Maiakoviski